GELASAL
Grupo de Estudos em Linguística Aplicada/Queer em Questões do Sertão Alagoano
Palestra-aula 04
Desejo na biopolítica do agora: questões da/na Linguística Aplicada Indisciplinar
Prof. Dr. Luiz Paulo da Moita Lopes
(PIPGLA-UFRJ)
Texto-base [para leitura]
"Uma vez que compreendo que a força motora do capitalismo subjaz tanto à lógica da ocidentalização do mundo (muito mais lenta!) assim como àquela operada pela visão de estabilidade dinâmica, catapultada das décadas finais do século XX até agora, penso que seja enriquecedor associar uma compreensão à outra. Assim, a lógica da reocidentalização continua atuante nas formas contemporâneas de colonizar e alienar os corpos dos negros, das populações LGBTIQ9+, das mulheres, de certas nacionalidades, dos imigrantes, dos pobres, de certas religiões etc. em suas interseccionalidades, presentes na estabilidade dinâmica de nossos tempos. Ainda que essa força de dinamicidade não esteja disponível para todos - muitos continuam à parte dela em vidas estáticas marcadas por uma assimetria social escorchante -, cabe considerar o barateamento dos dispositivos digitais, principalmente na forma do celular, em um mundo no qual o ser humano passa a ser uma extensão de máquinas como o celular.
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Neste artigo, utilizo o pano de fundo da reocidentalização e da estabilidade dinâmica, como propulsores da “historicização da biopolítica10 do agora” (Puar, 2007, p. xix ) para emoldurar a investigação das performatividades escalares (Nakassis, 2016) de raça, gênero e sexualidade em um aplicativo para encontros homoafetivos, típicos da rapidez de nosso capitalismo neoliberal exacerbado atual. A busca por parceria afetivo-sexual em aplicativos é um exemplo da estabilidade dinâmica da lógica do capitalismo contemporâneo que passou a mobilizar nossas subjetividades de forma diferente em tempos relativamente recentes. A estabilidade dos encontros se dá de forma intensamente móvel por meio de escolhas contínuas e frenéticas de parceria afetivo-sexual, o que envolve a formação das comunidades ‘leves’ e efêmeras das redes sociais em oposição a comunidades ‘espessas’ como família, nação etc., que incluem copresença física (Blommaert & Varis, 2015). Tais escolhas são orientadas por processos de generificação, sexualização e racialização, entre outros, no aplicativo, que com base na biopolítica do agora epistemologicamente constroem pactos inventados sobre “ontologias” inferiores e superiores (Mignolo, 2020). Como biopolítica, esses processos sustentados nos aplicativos são virais (Gallo, 2016). Daí também a relevância de serem estudados.
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(MOITA LOPES, Luiz Paulo da, 2020, p. 05-06)
Resumo
Nesta palestra-aula, Luiz Paulo da Moita Lopes, "[c]om base na biopolítica do agora - um processo que envolve tanto a reocidentalização do mundo como a estabilidade dinâmica contemporânea - e em uma ideologia linguística performativa,(...) relata uma etnografia da mobilidade em um aplicativo para encontros homoafetivos. Analisam-se performatividades escalares interseccionais de gênero, sexualidade e raça. São usados também os construtos teórico-analíticos de indexicalidade e escalas, que operam na compreensão de como os corpos são semiotizados no aplicativo. São focalizadas duas entrevistas etnográficas com dois participantes. Apesar da miríade de corpos e desejos semiotizados em uma dimensão acelerada, a matriz de inteligibilidade para os corpos de homens homoeróticos racializados em operação chama atenção para dois processos de projeções escalares. Esses remetem à reocidentalização do mundo tanto em relação a performatividades de masculinidade hegemônica como a performatividades racistas antinegros. Evoc[a] a necessidade de pensar uma futuridade alternativa política radical em conjunto com uma visão crítica da biopolítica do agora" (Moita Lopes, 2020, p. 05). A palestra tem como texto-base o artigo "Desejo na biopolítica do agora...", de Moita Lopes (2020).