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Palestra-aula 01

Linguagem e Território

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(Curso de Letras-Língua Portuguesa (UFAL-Campus do Sertão); Gelasal)

Texto de Apoio [para leitura]

"(...) há nesses textos jornalísticos, através das “escolhas” de palavras, a citação da matriz discursiva que inventou a seca, o sertão e o Nordeste, pois repetem seus efeitos cumulativos. Nessa, os retirantes são os mesmos. No entanto, são outros, em outro tempo, pois, ao caracterizá-los, opera uma demarcação temporal, que traz a novidade para a notícia. São outros retirantes porque são “do coronavírus”, e estão em “novo êxodo”, mas são os mesmos, porque são “nordestinos”, em retirada e “abatidos”, não pela pandemia do coronavírus em si, como cenário de angústia, como podemos apressadamente pressupor. A crise, mesmo sendo outra, é a mesma: porque são desempregados, estão demitidos.

(...)

Agem, também, na produção da região Nordeste como eternamente seca, inóspita. Diante dos propósitos dessa leitura, argumentamos que a manchetinha e o título da reportagem, e a reportagem, atuam como inculcação de normas, como uma máquina de cultura, recuperando e mantendo uma autoridade moral vinculante, pois fazem os sentidos parecerem obrigatórios.

(...)

Na leitura da manchetinha e do título de reportagem, concebemos que “retirantes” e “êxodo”, por exemplo, não são etiquetas que estariam mostrando apenas verdades sobre a região. Diferentemente, sustentamos que tais escolhas lexicais se dão em função do posicionamento ideológico, político e cultural, e “apontam” caminhos a serem seguidos na rede de significação constituída historicamente.

(...)

Por fim, nos esquemas de leitura aqui realizados, compreendemos que a palavra deve sempre ser tomada como um objeto múltiplo e complexo, nunca residual, e que, só assim, podemos assumir uma posição crítica de interrogar as normas, para que, nesse caso, possamos construir novas imaginações para os nordestinos e para o Nordeste, problematizando, no político, o encontro do linguístico, do histórico e do geográfico.

​

(SANTOS FILHO, Ismar Inácio dos e SANTOS, Hugo Pedro Silva os Santos, 2020, p. 143-146)

Resumo

Nesta palestra-aula, Ismar Inácio dos Santos Filho, situado na Linguística Aplicada Indisciplinar, e em diálogo com os estudos da História e da Geografia, pretende argumentar acerca da interface linguagem e território. Essa discussão objetiva chamar a atenção para a construção linguístico-enunciativa dos territórios. Nessa perspectiva, um território nunca é um "solo firme", mas um "solo movente", sobre o qual são agregados conteúdos semânticos, tal como discute o historiador Durval Muniz Albuquerque Júnior, quando aborda a invenção e a des-homogeneização do Nordeste/sertão.  A discussão tem como apoio o capítulo de livro de Santos Filho e Santos (2020) disponibilizado para leitura.

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